Mariana André Honorato Franzoi, Docente de Enfermagem da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil. E-mail: marifranzoiunb@gmail.com
Fernanda Leticia Frates Cauduro, Docente de Enfermagem da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil. E-mail: fernandacauduro@unb.br
O artigo “Atuação de estudantes de enfermagem na pandemia de COVID-19”, publicado no periódico Cogitare Enfermagem (vol. 25) traz reflexões sobre a participação de estudantes de enfermagem no Brasil, durante a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. Governo e entidades de enfermagem divergem em suas posições referentes à atuação de estudantes na linha de frente do enfrentamento à COVID-19.
A publicação do Ministério da Saúde (MS) do Brasil, intitulada Ação Estratégica “Brasil Conta Comigo”, foi o principal motivador para a elaboração da comunicação livre. Elaborada sem a participação direta de entidades de classe e de instituições de ensino, a iniciativa do MS prevê a inserção de estudantes da saúde do último ano de graduação, incluindo enfermagem, nos serviços de saúde. Há uma série de benefícios sugeridos aos voluntários como: pontuação adicional em processos seletivos para Programas de Residências em Saúde promovidos pelo MS, aproveitamento de carga horária no estágio curricular, e até mesmo descontos no valor das mensalidades em instituições de ensino privadas, porém, não apresentam garantias para um processo educativo-assistencial seguro.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) posicionaram-se contrários à política “Brasil Conta Comigo”, sobretudo pelas condições de trabalho alarmantes às quais profissionais de enfermagem são submetidos. Escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs), déficit de recursos humanos, além do estresse psicológico e emocional, são exemplos de problemas enfrentados diuturnamente por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem (ABEN, 2020; COFEN, 2020).
No Brasil, a enfermagem destaca-se como a categoria profissional mais afetada com a contaminação e morte pelo novo coronavírus; somam-se milhares de contaminados e centenas de mortes. Diante desse cenário, é possível garantir segurança aos estudantes de graduação em enfermagem, que se dispõem a atuarem em instituições de saúde, na assistência a pacientes suspeitos ou confirmados de COVID-19? Esses estudantes estão preparados para atuarem na linha de frente da pandemia? Há supervisão destes estudantes? A pandemia vigente tem revelado a lamentável realidade da falta de segurança e a sobrecarga do trabalho da Enfermagem pela insuficiência desses profissionais nos contextos de saúde, logo, a supervisão de estudantes não estaria sobrecarregando, ainda mais, esses recursos humanos?
No âmbito internacional, algumas escolas proíbem qualquer interação com o paciente, enquanto outras recrutam estudantes para cargos em hospitais ou até mesmo aceleram a graduação, para que possam servir na linha de frente no combate à nova doença (MILLER, 2020). No Reino Unido, além de terem sido construídos vários hospitais de campanha com o objetivo de reforçar a disponibilidade de profissionais de saúde na rede, estudantes de enfermagem e medicina dos últimos anos de graduação foram convidados a participar de forma remunerada em instituições de saúde, junto aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde recentemente aposentados (SWIFT, 2020).
Apesar do exposto, não se pode desconsiderar as potenciais repercussões que as experiências vivenciadas por estudantes poderão agregar ao conjunto de competências no contexto singular da pandemia. Também não cabe julgar a decisão daqueles que se voluntariam, mas torna-se necessário refletir se há outras formas mais seguras de contribuírem, haja vista que ainda estamos vivenciando, no Brasil, uma dinâmica ascendente de novos casos e de mortalidade por COVID-19. No entanto, diante do crescente número de infectados, inclusive dos profissionais de saúde, é premente assegurar a atuação estratégica, segura e responsável de estudantes de enfermagem que se colocam disponíveis para estar em instituições de saúde, prestando cuidado e assistência de enfermagem a pacientes suspeitos ou confirmados de COVID-19. Cabe considerar e apoiar formas mais seguras de os estudantes atuarem no combate à pandemia, como ações de promoção e educação em saúde por meio de mídias sociais.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM (ABEn). Nota da ABEN Nacional em relação à Ação Estratégia “O Brasil Conta Comigo”. [online]. 2020 [viewed 27 July 2020]. Available from: http://www.abennacional.org.br/site/wp-content/uploads/2020/04/Nota-Aben-educacao2.pdf
CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Cofen se manifesta sobre a Portaria 356 do MEC. [online]. 2020 [viewed 27 July 2020]. Available from: http://www.cofen.gov.br/cofen-se-manifestasobre-a-portaria-356-do-mec_78941.html
MILLER, D.G.; PIERSON, L. and DOERNBERG, S. The role of medical students during the COVID-19 pandemic. Ann Intern Med. [online]. 2020, vol. 173, no. 2, pp. 145-146. e-ISSN: 1539-3704 [viewed 27 July 2020]. Available from: DOI: 10.7326/M20-1281. https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M20-1281
SWIFT, A., et al. COVID-19 and student nurses: a view from England. J Clin Nurs. [online]. 2020, vol. 29, no. 17/18, pp. 3111-3114. e-ISSN: 1365-2702 [viewed 27 July 2020]. DOI: 10.1111/jocn.15298. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jocn.15298
Para ler o artigo, acesse
FRANZOI, M.A.H. and CAUDURO, F.L.F. Atuação de estudantes de enfermagem na pandemia de COVID-19. Cogitare enferm. [online]. 2020, vol. 25, e73491. e-ISSN: 2176-9133 [viewed 27 July 2020]. DOI: 10.5380/ce.v25i0.73491. Available from: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/73491/pdf
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