Usuários que convivem com processo crônico de saúde na APS: como eles veem o cuidado recebido?

Lívia Cozer Montenegro, Professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

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O artigo “O cuidado familiar e da estratégia saúde da família na perspectiva do usuário com processo crônico de saúde”, publicado no periódico Ciência, Cuidado e Saúde (vol. 19), permite dar voz para aqueles usuários que convivem com processos crônicos de saúde e são dependentes de cuidados familiares ou de profissionais da Estratégia Saúde da Família, que não estão inseridos em programas de atenção domiciliar.

Por meio de uma pesquisa qualitativa que utilizou entrevistas com 25 famílias de uma área adscrita a Unidade Básica de Saúde da regional Norte do município de Belo Horizonte, percebeu-se que o cuidado tem sido realizado em sua maioria pela família, mais especificamente por mulheres, geralmente filhas ou esposas. Para os usuários e usuárias dependentes, o cuidado realizado por elas representa sentimentos de confiança, esforços, tomadas de decisões que permitem ao membro dependente reconhecer as atividades realizadas nesse cuidado, bem como compreender o papel do familiar como referência para o seu cuidado. Considera-se como familiares nesta investigação todos aqueles que têm um laço afetivo com o usuário dependente de cuidados e, assim, foi constatado que apesar de reconhecer o papel do familiar no cuidado há diferentes sentimentos na relação entre a cuidadora familiar e o dependente de cuidados.

Do ponto de vista positivo, o cuidado proporcionado designa sentimentos de confiança, satisfação e zelo. Em contraposição, aparecem nessa relação sentimentos negativos sobre o ato de cuidar advindos de atitudes que os familiares cuidadores têm quando na rotina de cuidados tomam decisões pelo familiar dependente. O não respeito às suas vontades e chamar sua atenção expressam o controle sobre o estado de saúde do dependente de cuidados e anula a expressão de suas próprias vontades. Além disso, a piora do percurso clínico de doenças crônicas são preocupações desses dependentes pelo fato de poderem se tornar um peso para a família pelo aumento da dependência de cuidados. No que tange ao cuidado realizado pela Estratégia Saúde da Família percebeu-se que está centrado nas intervenções realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS).

Embora se apresentem como referência para o acesso a saúde, as ações dos ACS estão atreladas a uma dinâmica médico-centrada, já que o cuidado oferecido foi reconhecido pela capacidade de marcação de consulta médica e visita domiciliar. Os participantes do estudo valorizam também a figura do médico como fonte para a resolução de problemas diante da capacidade técnica de fazer encaminhamentos para serviços especializados e recomendar exames. Por outro lado, chama atenção a invisibilidade dos profissionais da enfermagem no discurso dos usuários e familiares.

Por fim, compreende-se que a cuidadora familiar tem assumido a responsabilidade de prover, organizar os recursos solicitados pelo dependente de cuidado e exercer uma assistência contínua. Na maior parte dos casos, o familiar não possui formação específica para executar atividades de cuidado e o exerce de maneira intuitiva sem apoio financeiro e social. Portanto, a família tem se configurado como elemento essencial para a sustentabilidade do sistema público de saúde especialmente na conjuntura atual de acometimento precoce das DCNT, bem como de contingenciamento de recursos.

Referências

ARRUDA G.O., et al. Percepções da família acerca do cuidado ao homem com alguma condição crônica. Cienc Cuid Saude [online]. 2018, vol. 17, no. 1. e-ISSN:  1984-7513 [viewed 29 January 2021]. https://doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v17i1.43845. Available from: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/43845/751375137997

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília, DF, 2013. vol. 1. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes%20_cuidado_pessoas%20_doencas_cronicas.pdf

TAVARES, M.L.O., et al. Relationship between level of care dependency and quality of life of family caregivers of care-dependent patients. Journal of Family Nursing [online]. 2020, vol. 26, no. 1, pp. 65-76, e-ISSN: 1552-549X [viewed 29 January 2021]. https://doi.org/10.1177/1074840719885220. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1074840719885220

Para ler o artigo, acesse

MONTENEGRO, L. C. et al. O cuidado familiar e da Estratégia Saúde da Família na perspectiva do usuário com processo crônico de saúde. Cienc Cuid Saude [online]. 2020, vol. 19, e50166. e-ISSN: 1984-7513 [viewed 29 January 2021]. https://doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v19i0.50166. Available from: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/50166

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

MONTENEGRO, L. C. Usuários que convivem com processo crônico de saúde na APS: como eles veem o cuidado recebido? [online]. BlogRev@Enf, 2021 [viewed ]. Available from: https://blog.revenf.org/2021/04/09/usuarios-que-convivem-com-processo-cronico-de-saude-na-aps-como-eles-veem-o-cuidado-recebido/

 

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