Carolina Viegas de Mello, Mestre em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Shino Shoji, Doutora em Enfermagem, Enfermeira do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza, Doutora em Enfermagem, Professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
O trabalho de enfermagem sofre repercussões com a globalização e a política neoliberal. Tais fenômenos provocam precarização no trabalho, com crescente terceirização e redução de trabalhadores atuantes em regime formal, prejudicando a garantia dos direitos sociais e aumentando o desemprego/subemprego, além de elevar a rotatividade da força de trabalho. Esta situação resulta em prejuízos na qualidade do cuidado e na saúde dos trabalhadores, bem como para o processo de inserção dos egressos de enfermagem no mundo do trabalho (SOUZA et al., 2017). Nesse cenário, considera-se também a complexidade do setor saúde, caracterizado como multifacetado, fragmentado e complexo. Assim, uma das recomendações para transformar tal cenário é por meio da formação (FREIRE, 1987), ratificando-se que educação é uma ferramenta de transformação social (SILVA; MACHADO, 2018).
Faz-se relevante que currículos institucionais sejam avaliados num processo dinâmico de construção/(re)construção, com objetivo de preparar futuros enfermeiros em agentes transformadores, por meio de processo ensino-aprendizagem reflexivo, crítico, problematizador, aproximando os estudantes de forma sistemática aos campos de atuação profissional (GONÇALVES; BRASILEIRO, 2021; SILVA; MACHADO, 2018). Neste ângulo, estudo idealizado por três enfermeiras (2021), intitulado como “Egressos de enfermagem e suas concepções sobre o mundo do trabalho”, publicado na Revista Enfermagem UERJ (vol. 29) por meio de ensaio de uma tese de Doutorado (2017), investigou a visão dos egressos de enfermagem sobre mundo do trabalho e manutenção no ambiente laboral. Abordaram-se 43 enfermeiros de duas universidades públicas federais do Rio de Janeiro, atuantes na profissão há mais de um ano, com graduação entre anos de 2000 e 2013, a fim de captar o cenário de atuação dos egressos na perspectiva desse último milênio.
Os participantes foram entrevistados utilizando um roteiro de entrevista semiestruturada e o material transcrito foi processado com auxílio do Software Iramuteq®; para tratamento dos dados, optou-se pela análise lexical/textual. Como resultados, em relação à Universidade A, encontraram-se três temáticas facilitadoras da atuação dos egressos no mundo do trabalho: autonomia profissional, bom relacionamento profissional, equipe de trabalho. Na Universidade B, apresentaram as seguintes temáticas: condição laboral favorável; trabalho em equipe, autonomia laboral.
Em relação aos fatores limitadores, na Universidade A encontrou-se sobrecarga de trabalho; escassez de recursos humanos/materiais; desorganização do processo laboral; precária qualificação da equipe de enfermagem e pouco reconhecimento profissional. Quanto à Universidade B, os aspectos limitadores foram sobrecarga de trabalho; falta de condições de trabalho e mau relacionamento entre funcionários. A análise das entrevistas possibilitou identificar que existem mais fatores limitadores que facilitadores para a atuação profissional, e que tais limitações surgem devido à configuração atual de trabalho, pautada por conceitos neoliberais.
Ressalta-se a necessidade de intervenções e reformulações não apenas no ambiente laboral, mas também no campo da formação, para que os egressos auxiliem na transformação da profissão e da organização do trabalho (GONÇALVES; BRASILEIRO, 2021). Considera-se que o estudo é relevante, já que investigou questões complexas da educação, permitindo discussões sobre o acompanhamento dos egressos de enfermagem no mundo do trabalho, ressaltando a importância do papel social da universidade em viabilizar melhorias contínuas para o sistema educacional e no setor saúde.
Referências
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GONÇALVES, G.A.; BRASILEIRO, T.S.A. Mapeamento dos egressos do PPGE/UFOPA e a importância de um sistema de acompanhamento contínuo. Revista Educação de Humanidades, 2021, vol. 2, no. 1, pp. 440-455.
SILVA, J.L.; MACHADO, D.M. Brazilian nursing in 90 years of associative history: contributions of the Brazilian Nursing Association. Hist. enferm. Rev. Eletrônica [online], 2018, vol. 9, no. 2, pp. 131-140. ISSN: 2176-7475 [viewed 8 October 2021]. Available from: http://here.abennacional.org.br/here/v9/n2/a4.pdf
SOUZA, N.V.D.O., et al. Neoliberalist influences on nursing hospital work process and organization. Revista Brasileira de Enfermagem [online]. 2017, vol. 70, no. 5, pp. 912-919. ISSN: 1984-0446 [viewed 8 October 2021]. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0092. Available from: https://www.scielo.br/j/reben/a/FrjNK4sQtBQdGdgLPGgDs6d/?lang=en&format=html#
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MELLO, C.V. de, et al. Egressos de enfermagem e suas concepções sobre o mundo do trabalho. Rev enferm UERJ [online], 2021, vol. 29, e46123. ISSN: 0104-3552 [viewed 8 October 2021]. https://doi.org/10.12957/reuerj.2021.46123. Available from: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/46123
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