Recomendações de prevenção relacionada à exposição ocupacional do profissional de saúde atuante no cenário de COVID-19

Cristiane Helena Gallasch, Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Editora Científica da Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: cristiane.gallasch@gmail.com

João Silvestre da Silva-Junior, Professor de Medicina do Trabalho na Graduação em Medicina do Centro Universitário São Camilo, Editor Associado da Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: silvajunior.js@gmail.com

A atual pandemia da doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, denominada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como COVID-19 (WHO, 2020c), levou os serviços de saúde a um novo cenário que influencia a saúde e segurança dos diversos profissionais envolvidos nos cuidados à população. Esta realidade, já vivenciada em países como China e Itália, traz preocupação social e profissional com a necessidade de reavaliação das ações para prevenção da COVID-19 entre os trabalhadores expostos ao vírus durante suas atividades laborais.

A transmissão é favorecida pelo contato próximo e desprotegido com secreções ou excreções de um paciente infectado, principalmente por meio de gotículas salivares. Outros fluidos corporais não estão claramente implicados na transmissão do novo coronavírus, mas se considera que o contato desprotegido com sangue, fezes, vômitos e urina pode colocar o profissional em risco de adoecimento (CDC, 2020c).

Estratégias de prevenção devem ser discutidas pelas equipes a fim de minimizar a exposição a infecções ocupacionais. Na cadeia de ações para proteger os trabalhadores contra os agentes biológicos, um método fundamental é o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) como barreira ao contato de risco prolongado com pacientes infectados (CDC, 2020b, 2020c). Porém, a eficácia do EPI está relacionada ao fornecimento de equipamentos com a proteção suficiente para o SARS-CoV-2 e o treinamento adequado das equipes de trabalhadores para o uso correto e consistente (CDC, 2020b). Há relatos da escassez desses dispositivos, o que requer o uso racional dos insumos para evitar a impossibilidade técnica de prestar cuidados aos pacientes em viremia (WHO, 2020d).

Práticas organizacionais de prevenção devem ser previstas antes da chegada do paciente ao serviço de saúde, reduzindo o fluxo de atendimento, e no primeiro atendimento, com rápido isolamento e uso de máscara e óculos de proteção nos casos suspeitos.

Durante a assistência, e mesmo após a saída do paciente do serviço de saúde, deve ser garantida a aplicação de precauções-padrão para todos os assistidos, além de precauções adicionais para casos suspeitos (gotículas e contato e, quando aplicável, precauções aéreas ambientais), assim como controles administrativos, ambientais e de engenharia (CDC, 2020a, 2020b; WHO, 2020b).

Os profissionais de saúde adoecidos têm se avolumado durante a pandemia, e o automonitoramento deve ser uma orientação regular, a fim de observar a ocorrência de febre ou sintomas respiratórios (tosse seca e falta de ar) (CDC, 2020c; RAN, 2020). Os serviços de saúde devem ter um plano de ação quanto ao adoecimento dos seus profissionais, estabelecendo fluxo de orientações e condutas. Até mesmo na suspeita deve-se restringir o trabalho, para impedir uma potencial transmissão para pacientes e/ou colegas de trabalho (CDC, 2020c) e manter uma quarentena de 14 dias após o último dia de exposição a um paciente confirmado com COVID-19. É importante graduar se houve um contato de baixo risco (por exemplo, com uso de máscara facial por ambos) ou alto risco (desprotegido ou parcialmente protegido), a fim de caracterizar a exposição e tomar ações corretivas o mais rapidamente possível, pois há recomendações específicas para cada caso (CDC, 2020c; WHO, 2020a). Nos casos de alto risco, a OMS recomenda que os profissionais interrompam o trabalho assistencial, permaneçam em quarentena por um período de 14 dias após o último de exposição a um paciente confirmado com COVID-19, e sejam testados para a infecção (WHO, 2020a).

O COVID-19 é de notificação compulsória imediata pelos serviços públicos e privados, e os casos suspeitos e/ou confirmado devem ser registrados no sistema oficial do Ministério da Saúde (ANS, 2020). O desenvolvimento da COVID-19 pela exposição ao vírus durante o exercício do trabalho nos serviços de saúde do setor privado justifica a notificação por meio da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) (BRASIL, 1991). Quanto aos servidores públicos, há de se observar as legislações trabalhistas e previdenciárias que regem o vínculo profissional.

Considerando a necessidade de se manter o máximo de profissionais em atividade para contribuir para a minimização dos impactos negativos desta situação de pandemia, os cuidados para promoção da saúde e prevenção de doenças entre os trabalhadores do setor saúde devem ser prioridade da sociedade.

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE (ANS). Nota Informativa da ANS – Número 1: Sobre Coronavírus – COVID-19. 2020. [viewed 20 March 2020]. Available from: http://www.ans.gov.br/images/comunicado01_coronavirus.pdf

BRASIL. Casa Civil. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. 1991. [viewed 20 March 2020]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213compilado.htm

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CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Interim U.S. guidance for risk assessment and public health management of healthcare personnel with potential exposure in a healthcare setting to patients with Coronavirus Disease (COVID-19). 2020c. [viewed 18 March 2020]. Available from: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/hcp/guidance-risk-assesment-hcp.html

RAN, L., et al. Risk factors of healthcare workers with corona virus disease 2019: a retrospective cohort study in a designated hospital of wuhan in China. Clinical Infectious Diseases [online]. 2020, ciaa287, ISSN: 1058-4838 [viewed 22 March 2020]. DOI: https://doi.org/10.1093/cid/ciaa287. Available from: https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciaa287/5808788

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WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Rational use of personal protective equipment (PPE) for coronavirus disease (COVID-19). 2020d. [viewed 20 March 2020]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/331498/WHO-2019-nCoV-IPCPPE_use-2020.2-eng.pdf

 

[Revisado – 23 Abril 2020]

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

GALLASCH, C. H. G. and SILVA-JUNIOR, J. S. Recomendações de prevenção relacionada à exposição ocupacional do profissional de saúde atuante no cenário de COVID-19 [online]. BlogRev@Enf, 2020 [viewed ]. Available from: https://blog.revenf.org/2020/03/27/recomendacoes-de-prevencao-relacionada-a-exposicao-ocupacional-do-profissional-de-saude-atuante-no-cenario-de-covid-19/

 

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