Ítalo Rodolfo Silva, Professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Macaé, Editor de Marketing Digital da Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Dulce Aparecida Barbosa, Editora-chefe da Revista Brasileira de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
A pandemia da COVID-19 sinalizou ao mundo a necessidade de mudanças comportamentais que afetaram, em diferentes proporções, a rotina e a vida das pessoas. O isolamento e o distanciamento social, entre outras medidas, são, ainda, mecanismos estratégicos e fundamentais para a redução de contaminação pelo novo coronavírus. Essas mudanças impactaram o tecido social em diferentes segmentos, não sendo diferente no contexto do trabalho na área da saúde. Nessa realidade, estão os enfermeiros, que constituem a equipe de enfermagem, cuja categoria representa mais de 50% dos recursos humanos da saúde. Além disso, os enfermeiros estão 24 horas por dia presentes na atenção à saúde das pessoas hospitalizadas.
Com a pandemia vigente, onde a ausência de uma terapêutica definida para o tratamento da pessoa com COVID-19 é incerta, o cuidado passa a exercer centralidade para toda a humanidade. A enfermagem, nesse sentido, foi, é, e continuará sendo protagonista desse processo, em que o cuidado é destinado à pessoa em uma perspectiva multidimensional que se estende, por exemplo, à sua família. Todavia, essa realidade potencializou aos enfermeiros sobrecarga de trabalho e enfrentamentos de ordem emocional, associados ao risco iminente de contaminação, adoecimento e morte em decorrência do novo coronavírus. Nesse sentido, é preciso destacar a seguinte questão: os enfermeiros são fundamentais para a atenção à saúde das pessoas e essenciais para o enfrentamento da COVID-19, sobretudo no cuidado direto ao paciente? Para tanto, necessitam, entre outras questões, de saúde emocional preservada para exercerem as suas competências (WHO, 2020). Sendo assim, como os enfermeiros da linha de frente desempenham o Trabalho Emocional no combate à pandemia da COVID-19?
No estudo realizado por pesquisadores da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa – Portugal, foram revelados temas que emergiram da análise de conteúdo de narrativas escritas e relato de grupo focal composto por enfermeiros com experiência de cuidados a pacientes com COVID-19, de diferentes centros hospitalares de Lisboa. Esses temas, que estão reunidos no artigo “Trabalho emocional de enfermeiros da linha de frente do combate à pandemia de COVID-19”, publicado na Revista Brasileira de Enfermagem, no volume 74 (DIOGO et al., 2021), sinalizaram questões relacionadas aos desafios vividos pelos enfermeiros na linha de frente dessa pandemia; emoções experienciadas por esses profissionais na prestação de cuidados; respostas emocionais de enfermeiros e pacientes e suas implicações nos cuidados; trabalho emocional de enfermeiros no processo de cuidados ao paciente, bem como oportunidades de desenvolvimento diante do desafio emocional exigido dos enfermeiros no combate à COVID-19.
A complexidade envolvida nesse contexto e que afeta o desenvolvimento do trabalho emocional dos enfermeiros, no enfrentamento da COVID-19, envolve a percepção da falta de preparação para uma pandemia atípica, afastamento físico da família nuclear para prevenção de contágio, possibilidades aumentadas de contaminação por um vírus letal, emoções antecipadas como medo, ansiedade e instabilidade emocional. Apesar de todo o exposto, a realidade da pandemia da COVID-19 sinaliza, a partir do que relatam os enfermeiros: experiência de crescimento e de transformação; aumento da eficácia da organização e restruturação do cuidado; coesão da equipe e sentimento de pertencimento; reconhecimento da intervenção de enfermeiros, entre outras. Portanto, os enfermeiros demonstraram capacidade para transformar, de forma positiva, este conjunto de experiências profundamente emocionais, trazendo novas percepções acerca de suas fortalezas para o enfretamento de crises pandêmicas, ou de ambientes de catástrofe, de modo a gerenciarem suas emoções de forma eficaz e adaptativa.
Referências
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mental health and psychosocial considerations during the COVID-19 outbreak [online]. 2020 [viewed 13 May 2021]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/WHO-2019-nCoV-MentalHealth-2020.1
Para ler o artigo, acesse
DIOGO, P.M.J., et al. Emotional labor of nurses in the front line against the COVID-19 pandemic. Rev. Bras. Enferm. [online]. 2021, vol. 74, suppl. 1, e20200660. ISSN: 1984-0446 [viewed 13 May 2021]. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0660. Available from: https://www.scielo.br/j/reben/a/gGvSvWDpB8Hb7rqhJFLmqHn/?lang=en
Links externos:
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários