Mulheres e COVID-19 no Brasil: o que os dados já sinalizavam sobre as primeiras internações?

Ítalo Rodolfo Silva, Professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Macaé, Editor de Marketing Digital da Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 

Ana Fátima Carvalho Fernandes, Professora titular, Editora-chefe da Rev. Rene, Fortaleza, CE, Brasil.

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No dia 20 de junho de 2021 o Brasil passa a lamentar a triste marca de meio milhão de mortos em decorrência da COVID-19, número este que tende a crescer. A primeira morte, no país, causada diretamente pela atual pandemia, foi de uma mulher, de 57 anos, da zona leste de São Paulo. E o que isso tem a nos dizer? De modo inicial, sinaliza a importância do olhar voltado para as especificidades que projetam, ainda que nas dimensões biológica e social, características das pessoas para os riscos ou potenciais riscos que apresentam relações com a COVID-19. Nesse caso, em uma perspectiva ampliada estão as mulheres, que também possuem suas especificidades que podem aproximar ou distanciar riscos de agravos ou de morte quando o assunto é a COVID-19.

Além disso, após mais de um ano de enfrentamento da pandemia, o mundo alcançou e constatou evidências que permitem compreender que parte expressiva das pessoas infectadas pelo novo coronavírus não desenvolverá sintomas graves que resultem na internação hospitalar. Todavia, ainda que em menor proporção, mas com efeito potencializado por se tratar de uma pandemia, a parte da população que requer internação em UTIs é, também, bastante expressiva, fato corroborado pelos colapsos nos hospitais brasileiros de inúmeras regiões em virtude da superlotação de leitos por pacientes com COVID-19.

Nesse contexto, como está a mulher? Ser mulher representa maior suscetibilidade à infecção? À gravidade do quadro clínico? À apresentação de resultados adversos? Essas questões sinalizam a necessidade de múltiplos estudos. Entretanto, sobre essa realidade, é possível tecer outras questões, mais específicas, como: qual o tempo de permanência hospitalar das primeiras internações por COVID-19 de mulheres no Brasil? Qual o status dessas internações, de acordo com os estados brasileiros, nível de comorbidade e de óbitos?

Para responder essas perguntas, pesquisadores do Sul do Brasil realizaram uma pesquisa, cujos resultados foram publicados no periódico Rev Rene, no volume 22 (PITILIN et al., 2021), intitulado “COVID em mulheres no Brasil: tempo de permanência e status das primeiras internações”. Os resultados revelaram que o tempo de permanência hospitalar das mulheres foi estatisticamente maior na faixa etária acima de 50 anos para o Brasil para as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Na avaliação dos primeiros casos graves de COVID-19 em mulheres, no Brasil, demonstrou que desse total 1.760 (14,6%) necessitaram de suporte em UTI. A região brasileira que apresentou maior proporção de internações que necessitou de suporte intensivo foi o Nordeste (23,5%). Entretanto, em relação aos estados da federação brasileira, foi o Espírito Santo que apresentou maior destaque, com mais da metade das internações necessitando suporte intensivo (66,7%), seguido do Paraná (43,9%) e Bahia (41,8%). Além disso, mulheres com níveis elevados de comorbidades, associados ao diagnóstico principal de COVID-19, apresentaram maior tempo de permanência hospitalar.

Para alcançar esses resultados, os pesquisadores realizaram um estudo ecológico com dados das internações por COVID-19 em mulheres e os dados foram estratificados por estados da federação, regiões, idade, tempo de permanência hospitalar, diagnóstico principal e secundários (comorbidades) e desfecho da internação. Os pesquisadores utilizaram os testes de Kruskall-Wallis, Mann-Whitney e qui-quadrado para análise. Os dados são referentes a abril de 2020.

Analisar o tempo de permanência e o status das primeiras internações de mulheres com COVID-19, no Brasil, permitem validar a importância das evidências científicas para a compreensão da realidade e para tomada de decisão fundamentada em parâmetros que considerem as especificidades das mulheres, posicionadas em seus contextos que afetam vulnerabilidades individuais e sociais (RACHE et al., 2020; CÂNDIDO et al., 2020), além de destacar a relação da idade e das comorbidades para o tempo de permanência da internação hospitalar.

Referências

CANDIDO, D. S., et al. Routes for COVID-19 importation in Brazil. Journal of Travel Medicine [online]. 2020, vol. 27, no. 3, taaa042. e-ISSN: 1708-8305 [viewed 23 June 2021]. https://doi.org/10.1093/jtm/taaa042. Available from: https://academic.oup.com/jtm/article/27/3/taaa042/5809508

RACHE B., et al. Necessidades de Infraestrutura do SUS em preparo à COVID-19: leitos de UTI, respiradores e ocupação hospitalar. Instituto de Estudos para Políticas de Saúde [online]. 2020, nota técnica 3. Available from: https://ieps.org.br/wp-content/uploads/2020/04/IEPS-NT3.pdf

Para ler o artigo, acesse

PITILIN, E. B., et al. COVID em mulheres no Brasil: tempo de permanência e status das primeiras internações. Rev Rene [online]. 2021, vol. 22, e61049. ISSN: 2175-6783 [viewed 5 June 2021]. https://doi.org/10.15253/2175-6783.20212261049. Available from: http://periodicos.ufc.br/rene/article/view/61049

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SILVA, I. R. and FERNANDES, A. F. C. Mulheres e COVID-19 no Brasil: o que os dados já sinalizavam sobre as primeiras internações? [online]. BlogRev@Enf, 2021 [viewed ]. Available from: https://blog.revenf.org/2021/08/20/mulheres-e-covid-19-no-brasil-o-que-os-dados-ja-sinalizavam-sobre-as-primeiras-internacoes/

 

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